Falar a respeito de Bossa Nova (aliás, sobre música brasileira em geral) é uma tarefa difícil, suada e extensa. Não por incapacidade daquele que discursa acerca do tema. Antes, pela enorme amplitude deste. Ninguém, talvez - muito embora haja trabalhos meritosos -, consiga abarcar a totalidade. O que se faz - e é o que tento há algum tempo propor - é desvendar o núcleo dessa totalidade. (*Estranhamente a linguagem filosófica é a que melhor expressa o que quero dizer, e de forma sucinta. Algo a se pensar*). A idéia, aqui, é mostrar dois conceitos convergentes de Bossa Nova. O primeiro, nos anos de surgimento, de 1959 à 1963 mais ou menos, vemos um tipo de música permeada pelo balanço do violão e do piano (vide Os Cariocas, ou mesmo os discos de Walter Santos, entre outros, por exemplo), um balanço suave. Na outra, nos anos posteriores à 1963, percebe-se uma renovada e sincopada rítmica: são os anos em que o SambaJazz toma conta da cena (cabe lembrar que O Som, do Meirelles, surge em 1963).
Toda a tônica da Bossa Nova - e também do SambaJazz - tem como pano de fundo o Jazz: a música de Carlos Lyra, Influência do Jazz [1963], que abre o set, traz esse consenso. A proposta de dois conceitos convergentes, de fato, não existe. Não tenho conhecimento de ninguém que tenha feito tal proposta. Certamente já foi observada na audição dos mais entusiastas. E, ainda, não se trata de uma ruptura. Antes, de uma continuidade, de um movimento dialético, uma sequência histórica. Mesmo assim, é nítido o SambaJazz (vide, por exemplo, Menino das Laranjas, do disco de 1964 da Elis, no qual os instrumentistas, vindos ao primeiro plano da cena, são Edison Machado, Sérgio Barroso e Dom Salvador, que formariam, no ano seguinte, o fantástico Rio 65 Trio) nos discos posteriores ao ano supracitado. Não há como encontrar um disco que seja de uma Bossa mais "SambaJazz" e outro do "Barquinho, o Mar e o Violão". Não é disso que aqui se fala, que fique claro. Os discos mesclam os dois em um, já que, de fato, ambos são apenas um.
Bem, para não estender em demasia, cabe ressaltar mais dois pontos particulares. O nome que atribuí à série que começa com esse disco, principalmente o segundo nome "Movement", vem do último disco autoral da fantástica A Tribe Called Quest [The Love Movement, 1998]. Por dois motivos: por conta do próprio significado da palavra-expressão; e pelo fato de que foi por meio da A Tribe que me voltei para o mundo-sem-fim da música, principalmente o Jazz e todas suas variações e ramificações. Em segundo plano, ressalto que a pesquisa é profunda (talvez infinita, já que ainda não vi o fundo desse buraco no qual me meti). A Bossa é uma das expressões que influenciaram definitivamente a musicalidade universal. Os instrumentistas ali surgidos formam o divisor de águas da música Brazuca. Mesmo tendo eu nascido mais de duas décadas após o auge do Movement Bossa Nova, a paixão por ela vem por meio da paixão pelo Samba e de minha admiração e extasiamento pelo Jazz.
Bossa Movement I
1. Influência do Jazz - Carlos Lyra [1963]
Bossa Movement [ouve aí!]
Bossa Movement I
1. Influência do Jazz - Carlos Lyra [1963]
2. Vem - Marcos Valle [1965]
3. Ponto de Vista - Johnny Alf & Jorge Nery [1968]
4. Menino das Laranjas - Elis Regina [1964]
5. Samba do Carioca - Sylvio Cezar (part. Meirelles) [1964]
6. Mestiço - Wilson Simonal [1965]
6. Mestiço - Wilson Simonal [1965]
7. Clichê - Leny Andrade [1965]
8. Sem Saída - Carlos Lyra [1963]
9. Rapaz de Bem - Wilson Simonal [1964]
10. Não Me Deixe Só - Jorge Nery [1968]
11. Rio - Os Cariocas [1962]
12. Samba de Verão - Marcos Valle [1965]
13. Ipanema - Regininha [1968]
14. Amanhã - Walter Santos [1965]
15. A Resposta - Leny Andrade [1965]
13. Ipanema - Regininha [1968]
14. Amanhã - Walter Santos [1965]
15. A Resposta - Leny Andrade [1965]
16. Faz-de-conta - Magda [1968]
17. Lobo Bobo - Wilson Simonal [1964]
18. Samba Para Pedrinho - Walter Santos [1965]
19. Pra que Chorar - Os Cariocas [1962]
20. Samba de Orly - Chico Buarque [1971]
Salve do Subsolo Urbano!
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