quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Vertentes Oblíquas: Jazz Rap


We’ve got Jazz! É isso! Somente isso que define toda essa parada. O famoso refrão da A Tribe Called Quest que se tornou uma espécie de lema para o Rap a partir do início do novo milênio. E é disso que estamos falando aqui, Nigga!
A pequena compilação, que se pretende a primeira de uma série – pois tem muita coisa por aqui –, é fruto de uma pequena pesquisa e de uma grande experiência. Quando começo a pensar quando, exatamente, a música e o Rap entraram na minha vida, a memória viaja para longe. Mais ou menos 1992. São 20 anos de experiência. E naquele período não sabia – o que teria de saber? E quem saberia? – que o Rap me levaria por tantos e tantos caminhos; para tantos e tantos nomes; tantas e tantas pessoas bacanas, alguns irmãos que se fizeram nesses 20 anos. Nos rolês... E foi aí que conheci algumas pessoas incríveis. É claro que nem tudo são flores. Mas falemos somente delas aqui!
Foi pelo Rap que conheci o Jazz; e pelo Rap conheci o Funk; e também por aqui, as pessoas, os nomes... Foi, antes e maior que tudo, que me foi dado a possibilidade de criar uma identidade, muito diferente, pelo menos durante a década de 90, daquela que nos era imposta: aqui, identidade negativa. E negativa não como substância; mas como transitoriedade mesmo. O Rap das décadas de 80 e 90 formou uma geração. E uma geração de pretos pensantes, cientes e orgulhosos de si. Aqueles que têm o cabelo duro e sabem que isso é, antes de indicar a qual “grupo social” pertence, uma forma de auto-afirmar sua existência. Foi pelo Rap que conheci a Filosofia e a Teoria Crítica Social, pensando sempre em como “realizar” aquilo que as letras mais significativas nos diziam que era preciso. É, portanto, o fundamento de tudo.
Aqui o que se compilou foi uma “vertente oblíqua” dentro do escopo desses quase 40 anos de Rap, desde os finais da década de 70 até hoje. Uma “vertente”, pois, um fragmento que foge ao habitual dos anos 90 e anteriores. “Oblíqua”, pois vai além daquilo que vem à mente quando se ouve (ou quando se ouvia, no passado) a palavra Rap. Do início até o final da década de 80 a predominante influência do Funk se fazia visível em toda a extensão do “Movimento”. No entanto, no início dos anos 90 a coisa toma um rumo “oblíquo”: o Jazz entra em cena. O primeiro disco da ATCQ é, quase que totalmente, cheio de samples de Jazz. Basta observar que o primeiro disco, People’s Instinctive Travels and the Paths of Rythm, tem, nada mais nada menos, que 47 pedaços de músicas para compor os 14 sons do disco. O Funk não deixou de influenciar. Antes e além disso, o Jazz soma-se ao já sabido “beat” pesado. Outros grupos da década de 90 são influenciados por esse movement: Digable Planets, que abre o set, é um deles. Entre De La Soul, The Pharcyde e outros tantos, há algo que conflui, um nome: Jay Dee (ou J Dilla). Este é o cara. É ele o grande responsável por grande parte dos beats desse período. Enfim, o que vem depois, no novo milênio, em alguns casos leva em consideração apenas a aparência de todo esse momento anterior: talvez, em alguns casos, seja algo mais “industrializado”. Mas não deixa de ser bom ouvir e, tão pouco, deixa de ser bem feito. É Jazz Rap! É algo agradável aos ouvidos [e talvez esse seja um dos motivos de esse tipo de Rap ter sido incorporado aos “padrões” (ou “podrões”) dos valores da classe média branca].
Enfim, o que temos é algo bacana de ouvir. E, para quem quiser, aí está:

Vertentes Oblíquas: Jazz Rap [2012] 
01. It's Good to Be Here – Digable Planets
02. Intro – The Sound Providers
03. Hope (DJ Mitsu Remix) – Dj Mitsu  Feat. Pete Philly, Perquisite and Talib Kweli
04. Work It Out (Freddie Joachim Remix) – Freddie Joachim Feat. Mos Def
05. É Rimando que se Aprende – Primeira Audição
06. Mundo Cruel – Mental Abstrato Feat. Marcelo Monteiro & Ronaldo Camilo
07. Wake Up – Freddie Joachim Feat. Othello
08. The Field – The Sound Providers
09. Reflection – Freddie Joachim Feat. Choice37
10. That's Bad – Sinuous Productions
11. Bons Fluidos – Mental Abstrato
12. A Primeira Audição é a que Fica – Primeira Audição
13. Gone - ArtOfficial
14. What's Next – Jazz Liberatorz
15. Jazz (We've Got) – A Tribe Called Quest


We've Got Jazz! do Subsolo!


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