sábado, 20 de abril de 2013

Estado Paranoia


Algumas reflexões e impasses junto aos alunos
 fazem pensar certas coisas de outros modos.

Paranoia. Este é o estado no qual se encontra as pessoas atualmente. Nas metrópoles – e isso não diz respeito somente à São Paulo – e também nos grandes centros de poder e decisão, em suma, no atual estágio do capitalismo, as pessoas, os Estados, as relações sociais são, em estado de exceção – e isso que surgiu na conversa com os alunos de modo bem trivial e reflexivo –, todos eles psicopatas por excelência. Em estado de exceção, sim, já que “é como prevenção que se deve ser paranoico”.  Os ataques discriminatórios, que julgam por “conceito-pré-conceito”, são sempre frutos de uma paranoia imanente e naturalizada. Não é mais um luxo dos usuários de crack ver “bichos” os perseguindo. Atravessar a rua para se "prevenir" de um assalto ou de um estupro, correr depois das 22h para fugir sabe-se lá do quê, não conseguir olhar aos olhos de outro sem tremer (principalmente à noite), denunciar e acusar, são estados “normais” em vista da “sobrevivência” do indivíduo. A “guerra sem baixas” do século XXI, como já apontam alguns pensadores, é exatamente a guerra de prevenção. Os bombardeios de 2002 ao Afeganistão e a derrubada de Saddam Hussein não indicam isso também? A H1N1 não criou um estado paranoico no mundo? E, logo, algumas pesquisas revelaram que a gripe “normal” derrubava mais gente que a tal “peste do século XXI”.
Se a histeria foi o grande boom da virada do século XIX para o XX, esse estado de exceção que se torna regra e traz em seu bojo o pânico é o que nos circunda e perpetra. O “grande irmão” – as câmeras espalhadas pelas cidades testemunham muito bem isso –, que nos acossa e nos “protege”, é, de fato, a luz do progresso e nossa “segurança em plenitude”: Minority Report é um grande exemplo. Aquilo que José Serra disse em entrevista à CBN, ano passado na corrida das eleições, não era isolado nem espasmos de sua loucura individual: trata-se de um processo. Segundo ele, era (ou melhor: é) necessário identificar potenciais criminosos juvenis nas escolas públicas municipais (e blá blá blá). Esse tipo de pensamento reacionário não era, nem é, isolado: ele retrata o “ZeitGeist” – o “Espírito do Tempo” –, aquilo que já se tornou senso comum no imaginário e agora está tomando forma na linguagem, advindo publicamente e com força. A redução da maioridade penal não é fruto da “paranoia preventiva”? Um estado de coisas paranoico e violento – sociopata – reduz o processo de advento das contradições sociais a um único ponto: eliminação do imediato. É óbvio que o trabalho ideológico junto ao senso comum nem precisa ser tão intenso, já que extenso e se desenrola no tempo, encaixado quase que perfeitamente no decorrer histórico. Além do problema latente que é a luta de classes – no qual só os “mais escuros” e os “menos providos” que irão ser o alvo imediato –, há o problema do transtorno compulsivo social. É aqui que a inumanidade real atinge a si própria, em nome da “vida” e da “paz”, com a morte.
A paranoia real, que insufla a “vida” de cada um todos os dias e faz com que desconfiem de tudo e todos, reiterando, não é mais um luxo dos “noias clássicos”; não é mais uma exceção. E isso está tomando forma de morte na medida em que tende a eliminar o seu anverso: o outro deve deixar de existir, seja ele quem for. Não é esse o discurso neo(nazi)pentecostal? Não é esse o discurso dos “moderninhos alternativos” que, porventura, somente aceitam o “seu” diferente? Não é, também, a prática cotidiana cínica, que “existe racismo, mas ninguém é racista”, que elimina o racismo ao eliminar o objeto (eliminando e incorporando – suprassumindo – seu cabelo, seus modos tradicionais, suas músicas e etc.)?
Quando estiver andando e sentir a necessidade de atravessar a rua por conta de um “potencial estuprador/bandido/marginal”: cuidado, você faz parte (e toma parte) dessa inumanidade mortífera.

Subsolo Urbano! 

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