A “História” do Brasil contesta, com seu descompasso histórico e seu
anacronismo entre ideias e realidade prática, as máximas universais da
filosofia da história. Se a alhures disse-se: “a história somente se coloca
problemas que pode resolver”, aqui parece que os problemas se colocam após sua
resolução. Isto no plano da História.
Já no âmbito da “história” (do cotidiano e dos discursos sócio-neurótico-políticos
dos outsiders descolados), a
passividade dos indivíduos – que aparece como seu contrário e como
agressividade –, preza pela aceitação como submissão, pela ratificação do
estabelecido com ares de revolução permanente e sem pressa e na medida do
limite do possível – “o que poderia ser feito, de mais avançado, foi (...)”,
dizem. Há ideias fora do lugar –
ainda que em outro sentido. Ambas as histórias – História e “história” –, ligam-se exatamente no ponto em que se
cruzam: quando a resolução a priori
do problema ainda inexistente ratifica a realidade contraditória, que se mantém
pela ultradesigualdade ao mantê-la. É como usar o bidê antes do vaso sanitário
e, a ratificação – “revolucionária” e de um vermelho desbotado, não satisfeita
consigo mesma –, vender o que boia no vaso como milagre do benevolente. O problema da História só se coloca, então, depois de se sucumbir completamente a
ele e agraciá-lo: a escravidão só teve fim quando a resolução dos problemas que
viriam com seu término já estava dada; o capitalismo somente é contestado, hoje,
na medida em que o protesto mesmo é a assunção de um nível mais elevado, e mais
potente, de capitalismo. De outra monta, as ideias da “história” somente ganham
coro – para o bem e para o mal – quando aquilo que as alimenta já está
ultrapassado: o que é ultrapassado é ultrarrealista e ultra-atual – pelo menos
atual até o momento de sua fetichização e seu esgotamento crítico. “Amanhã
ninguém sabe”: sabe-se, sim, que o problema de vinte anos de vigência será a
última moda e que seu antecessor, o de ontem, será mais ultrapassado que
estrada de ferro no Brasil. Em um caso, as ideias vão além da realidade para
justificá-la quando de sua chegada; em outro, a realidade espúria agradece a
ratificação através de discursos que relegam o essencial: a luta de classes, que
vai além do poder das pedaladas – para o bem e para o mal.
Subsolo!
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