segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Os Olhos do Absurdo [a Barbárie como solução à Modernidade]

Quer ver o absurdo?


A gente se acostumou a ser pisoteado, tanto que mesmo nas horas mais explícitas, cruentas, absurdas de fato, a gente não consegue mais se indignar profundamente e por um longo tempo. Fomos simplesmente acostumados a viver o absurdo, dentro e fora de nós; acostumamo-nos a deixar que barbárie (palavra batida, mas de significado forte e expressivo) se tornasse comum, corriqueiro, cotidiano e, quiçá, esplêndido. O bombardeio que recebemos dela diariamente nos faz não mais prestar nosso protesto profundamente indignado diante dessa espécie muito peculiar de vida(?) que nos assola. Talvez nem seja culpa nossa. A quantidade dela, de barbárie, que nos toma de assalto pela mídia, em geral, e pela televisão em específico - além do que vemos 'ao vivo' e nem sequer percebemos -  em todos os momentos (TODOS!) da nossa caminhada por esse mundo faz com que nem tenhamos mais tempo de indignação (como não temos o da reflexão): o momento da reflexão, que precede a indignação e a ação, e as próprias indignação e ação são sobrepujadas pelo absurdo seguinte; num momento nos passam o ápice de crueldade pela TV; no momento seguinte, sem tempo nem para entender a barbárie anterior, aquela é superada por uma maior; e assim sucessiva e ininterruptamente. O nosso tempo de mastigação, deglutição, digestão do absurdo – aquele através do qual poderíamos nos indignar e agir – foi suprimido: não pelo aumento da quantidade de crueldade no mundo, mas pela qualidade, velocidade e amplitude do que vemos e como vemos. Hoje, só para deixar explícito, vemos a barbárie mundial. Talvez a quantidade nem tenha aumentado; porém "temos acesso" ao que antes não tínhamos, deixando a impressão de que a barbárie está por todo canto e, assim, é "naturalizada", tornada senso comum. A nossa grandiosa e esplendida "pós" (sic!) modernidade, que "facilitou" nossa existência se comparado as épocas anteriores, dificultou nossa percepção (quase a suprimiu!) e nossa capacidade de refletir, de se indignar, de agir: estamos estáticos (e extáticos!). Entretanto, mais que antes ou não, a barbárie, o absurdo está em cada esquina, e revela sua faceta menos indiscreta de tempos em tempos.

Nosso poder de indignação nasce como nossos sonhos; morre como nossos sonhos: num sol quente.

‘E agora?’, retomando a indiscreta pergunta, "Que fazer?".   

Os Olhos do Absurdo [parte II]

Semana passada, no centro do Holocausto (SP, capital), ocorreu o que de mais justo há: manifestar contra as injustiças do Estado, da afronta ao trabalhador e à população, em suma, ao que ainda resta de humano nesse mundo. Enfim, a manifestação prezava pelo não aumento absurdo e acima da inflação (confira o índice IPC; o reajuste de R$ 2,30 para R$ 2,70 na tarifa, o que representa uma variação de 17,39%, autorizado pelo prefeito Gilberto Kassab; sendo que o IPC, de fato, é de16,54% e não os mais de 17% como afirma a Prefeitura) . Como de costume em toda manifestação, o braço repressor do Estado agiu no seu estilo tradicional, de cunho medieval ou romano, com sua sutileza e todos os outros adjetivos que possamos dar a isso.

 
 
Quem já sentiu, em algum momento, o poder do Spray de Pimenta da Cavalaria Romana, mesmo que a metros de distância, sabe o quão ruim é: arde olhos, garganta, dificulta muito a respiração fazendo com que se fique atordoado. Mas esses bárbaros devem usar esse tal spray, por princípio, em direção ao chão para contenção do que eles chamam de 'tumultos'. Insisto, EM DIREÇÃO AO CHÃO! Só isso basta para dispersar caso haja um real 'tumulto', como eles dizem.

 

O rapaz ficou mais de uma hora sem poder abrir os olhos.
Penso que o resto está explícito nas imagens. Não preciso dizer 'covardia' ou qualquer outra coisa: a foto vale mais que mil palavras.

Enfim, o Caos Urbano reflete o Caos do mundo. A Barbárie não vem da 'baderna' (sic!), mas da Ordem.