quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Barbárie expressa, não-contida, contemporânea...

... E quanto mais se olha para frente, mais desumano se torna. 

A mesmice! É o signo expresso da barbárie. Impactante, frustrante frente ao mundo, não é ler a Mínima Moralia e diagnosticar o presente pelo prisma do pessimismo. Antes disso, é no viver a realidade olhando-a pela "intentio oblíqua" que reside o 'soco no estômago', amargo da situação. Frustrante mesmo é ver que nem aqueles que se consideram com mais capacidade - ou mesmo aqueles que se admira - não conseguem se desenrolar do mundo, da lama e, por fim, caem na mesma poça, criticando, simplesmente e apenas, uma gotícula de água que saltou. A mesmice é a barbárie cotidiana, aquela na qual não se vê além do dado e naturaliza as bordas da realidade que, por isso, torna-se estanque. Os indivíduos reais não existem; aqueles que existem, são irreais. Tudo cai na redoma, no redemoinho que tudo suga da realidade fática. Aqui, pelo menos em aparência, tem-se a tão sonhada harmônia: underground e mainstream equacionam-se, igualam-se e, por fim, somem. O crítico de profissão e o 'reacionário' estão, ambos, no mesmo patamar: cumprimentam-se na fila do IPhone 5 (ou seja qual for o número). Tanto um quanto outro não concordam com o 'modelo de sociedade', criticam-na. A culpa, os defeitos são do outro - ou outro inexistente, diga-se - e, assim, lavam as mãos. Negam aquilo que perturba o sono; e, quando acordam, afirmam com toda força de seus parvos espíritos suas verdades sonhadas. O radical que come folhas e o canibal, 'alienado', encontram-se na fila do truste mundial, chamado supermercado, cumprimentam-se e, por fim, fazem reverência ao latifundiário. Aquele carro com adesivo da 'paz verde' utiliza etanol e, com ele, toda a superexploração do trabalho, e, ainda, para respeitar as 'leis' e o 'meio ambiente', tem dois carros: evita o rodízio. O que tanto defende animais assemelha-se a eles: perdeu o que tinha para além da selva, retorna a ela. Fala em desumanidade enquanto sonha possuir seu contrário: pula os 'lúmpens' na República, atravessa a rua e julga, como bom cristão, tudo e todos. No fim, todos se dão as mãos, glorificam o existente e expurgam quem e o quê 'sai da linha'. E, quando muito, suspendem seus "juízos morais" para, logo em seguida, dar aval para a chacina - talvez, não tão expressa. O que vale: ser integrante completo da mesmice, adquirir selo de qualidade, ISO não sei quantos mil, admirar o absurdo, saudar a barbárie. Saúdam-na quando se abraçam na frente do espelho, quando se admitem assim, como são. Quando, no mais, se debatem pelo mesmo. 

Subsolo!