terça-feira, 12 de setembro de 2017

Descompasso

    
     Qual a questão mais candente de nossa época? Ser sujeito! Quando se é sujeito, no estilo vigente, tem-se a glutonia de um monstro. Sem cérebro, tal monstro devora tudo que brilha – o que brilha, pois, cego, só vê o que cintila, um Midas invertido. Abole-se a precisão da experiência. Experiência! Compra-se tudo, pois a experiência, pretérita, nada pode contra o todo. Cronos venceu Kairós. Engoliu-o. Aonde foi a espontaneidade? Quem em sã consciência ainda almeja qualquer tipo de envolvimento erótico com o mundo, é anacrônico. Subjetividade! – grita-se de lá. Qual? ... Quem, em sã consciência, ainda arriscaria a própria pele, correndo-se o risco de anacronismo, de morte total? ... A mercearia abstrata, tal como aquelas de interior, só que ampliada, tem tudo à mão. Nada deve ficar por desconhecido e enigmático. Tudo deve ter sentido prévio, posto, cristalizado. Cabe ao monstro – ou àquele que se diz sujeito – captar da maneira certa. Da maneira certa, pois há um sentido que transcende e extrapola as forças e a capacidade reflexiva do dito cujo. Aqui vigora o sempre-igual, o sempre-mesmo. Destoa? Paulada no cocuruto! Morte a tudo que descompassa, ao dissonante! Aqui, subjetividade significa o isto, prescrito pelo Grande Doutor. A interioridade é causa dos idiotas. Importa o que está por dentro. O que está por dentro, não a interioridade: somente aquilo que está por dentro desponta e brilha; é devorado; cega. Qual a questão mais de-cadente de nossa época? ...

Ouvindo:

Subsolo!

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