sábado, 31 de outubro de 2009

Fetichismo...

... e no Livro I do Capital, no capítulo sobre a mercadoria, lê-se:
 (...)
"À primeira vista, a mercadoria parece ser coisa trivial, imediatamente compreensível. Analisando-a, vê-se que ela é algo muito estranho, cheia de sutilezas metafísicas e argúcias teológicas. Como valor-de-uso, nada há de misterioso nela, quer a observemos sob o aspecto de que se destina a satisfazer necessidades humanas, com suas propriedades, quer sob o ângulo de que só adquire essas propriedades em conseqüência do trabalho humano.


"O carácter misterioso da forma-mercadoria consiste, portanto, simplesmente em que ela apresenta aos homens as características sociais do seu próprio trabalho como se fossem características objectivas dos próprios produtos do trabalho, como se fossem propriedades sociais inerentes a essas coisas; e, portanto, reflete também a relação social dos produtores com o trabalho global como se fosse uma relação social de coisas existentes para além deles.

"É por este processo que esse produtos se convertem em mercadorias, coisas a um tempo sensíveis e suprasensíveis (isto, é, coisas sociais) .

"(...) a forma mercadoria e a relação de valor dos produtos do trabalho [na qual aquela se representa] não tem a ver absolutamente nada com a sua natureza física [nem com as relações materiais dela resultantes]. É somente uma relação social determinada entre os próprios homens que adquire aos olhos deles a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. É o que se pode chamar o fetichismo que se aferra aos produtos do trabalho logo que se apresentam como mercadorias, sendo, portanto, inseparável deste modo-de-produção." 



E o que, num olhar mais atento ao mundo, não é fetiche?

O 'Véio Barbudo' estava certo...

  

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Manifesto de criação do Coletivo Quincas Borba! [Mov. Estudantil, Mackenzie, SP]

Manifesto Quincas Borba!

“A palavra daquele grande homem era o cordial da sabedoria. Disse-me ele que eu não podia fugir ao combate.”

Quincas pensou em um sistema filosófico agregador de toda a humanidade. Diz ele que todos descendemos de um único homem, Humanitas, que é “repartido por todos os homens”. Cada um de nós é um “Humanitas reduzido”. Viemos de sua cabeça, de seu coração, de seu peito, e também de sua unha do dedão do pé, da ponta de seu nariz, de seu ânus. Longe de se parecer com Brahma, o deus criador hindu, Humanitas é como nós: sente fome, inveja ou mesmo sono. Ele nos concede a vida, “o maior benefício do universo”, e nós pagamos com luta, incansável e insaciável luta. “Lutar... o essencial é que lutes. Vida é luta. Vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal”. Para os vencidos resta fome e destruição. “Ao vencedor, as batatas”!


Não pretendemos semear nem fome nem destruição. Nada disso. Nosso esforço se concentra em nos reconhecermos no mesmo corpo, agirmos em harmonia, sobretudo AGIRMOS. Em outras palavras, buscamos quatro pilares para o que estamos construindo: identidade, coletividade, atitude e solidificação.


Qualquer questão estudantil é antes uma questão de luta. Não digladiaremos pelas ruelas mackenzistas. Deixemos a espada do rei ao lado. O combate é com palavras. A ação é com firmeza, com coragem, astúcia e humor. A confiança é o que nos une.


Ao nosso lado soam murmúrios tirânicos, até os “açoitados” o proferem. Perguntar se é errado ou menos certo não faz sentido. Do frio que nos assola, nos protegemos na união, numa autêntica e verdadeira união. A velha questão da heteronomia entra novamente em cena. Mas nós optamos pela desburocratização do ser autônomo. Não só contra a União Nacional dos Estudantes (a famigerada UNE que, como vinho que apodrece com o passar dos anos, de gosto valioso, torna-se líquido insalubre, fétido, repugnante), nos oporemos a todo movimento estudantil que se porte como títere nas mãos de poucos. Despedacemos os fantoches! Cortemos os dedos que procuram pelos trapos! Como Prometeu nos ensina, é inútil o fogo para o enclausurado; os grilhões impossibilitam a luta.


E nosso passado, que nos espreita nas vielas do conformismo, não será esquecido. Diferente de distribuir comunicados - ranger as correntes agarradas à ponta da pirâmide -, é o papel a que nos propomos. Nós lutamos por rompê-las. O palco onde o combate é travado é o palco da ação e do coletivo. “Mas no fundo da caverna baila um único nome”, diz aquele que vê sombras. Ilusão provocada pelo brilho das algemas.


“Uma autorrepresentação discente”, “um movimento estudantil”, “uma ponte entre alunos e universidade”, “portavozes”, definam como quiserem. Em um campo onde monstros autômatos alimentam-se dos cérebros que jazem inertes, somos os cães que ladram por vida.


Todos sabem que o Mackenzie carece deste chamado. Assim como as paredes geladas do labirinto burocrático que impedem Teseu de encontrar Minotauro, a inalcançável distância entre a base e a ponta não deixa que o fogo derreta a pirâmide. O culpado? Todos nós. Cabe transformarmos a situação. “Humanitas precisa comer”. Vamos saciá-lo.


E em busca do quê?


Da verdade, pois “no dia em que a houveres penetrado inteiramente, ah! nesse dia terás o maior prazer da vida, porque não há vinho que embriague como a verdade”. E ela só pode aparecer quando nos expressamos. Somos contra o silêncio. Contra os abismos mudos que nos separam.


Quincas Borba, homem, alunos ou cão, pouco importa, desde que a voz seja ouvida.
...
Mas há quem diga que o nome só se confirma por causa de Borba.

Break Mechanics & ArtOfficial




Break Mechanics, banda de jazz-rap de Denver - Colorado - EUA. O grupo é formado pelos emcees Paas, Q-Burse e Lo, além do baterista Darren Hahn, o tecladista Greg Raymond e o baixista Casey Sidwell. Os caras lançaram seu álbum de estréia ano passado, intitulado com o mesmo nome do grupo.

Com uma levada no estilo daquilo que chamamos de 'rap underground', os caras fazem um instrumental inspiradissímo no jazz com sessions entre as letras. O teclado de Raymond geralmente possui lugar de destaque, mas isso não faz com que se ofusque os outros instrumentos. Há vários solos na pegada jazzística, deixando o clima leve e relaxante.

Para quem gosta de rap - rap de verdade! -, e também para quem não curte muito mas gosta de ver as construções que sempre deixa quem ouve um bom jazz de cabelo em pé, Break Mechanics é recomendadissímo pela qualidade sonora.

Eu particularmente destaco alguns sons do álbum: Serious Inquiries; Calling All Cars; The Hit; Listen; mas principalmente Sun Still Rise e 3 MC's. 






ArtOfficial, é outra banda de jazz-rap de Miami, formada por Danny Perez nos teclados, Manny Patino na bateria, Ralf Valencia no baixo, Keith Cooper no sax e os mc's Newsense e Logics.

Os caras lancaram um EP intitulado Stranger com 5 músicas muito bem resolvidas, de forma independente e bem underground [no bom sentido]. Ano passado os caras lançaram o primeiro disco intitulado Fist Fights and Foots Races que, além das 5 músicas que já apareciam no EP, apareceram mais alguns hinos muito bem trabalhados, tanto no jazz quanto na rima, e também um remix da grande Big City Brights Lights.



Com uma levada rápida,  versos e rimas alucinantes, com muito destaque para o sax em quase todos os sons, ArtOfficial é algo indispensável para os bons ouvidos.  Aqui o jazz e o rap se fundem de forma gloriosa fazendo um som de alto nível, que  supera toda essa patifaria que fizeram com o rap depois da virada de milênio. 






Para mim, os sons destaques ficam com: Skunk Ape; Too Nasty; Rewind; Eyes Of A Stranger; Gone; Clockwork; Remember The Days; Word Bending, and, of course, Big City Bright Lights. Todos muito bons sem excessão; 




Bem, para quem gosta dos sons do Subsolo, da escola que trouxe com ênfase e afinco o Jazz para o Rap, desde A Tribe Called Quest, Buckshot LeFonque e etc., e a escola instrumental vinda com The Roots, ArtOfficial e Break Mechanics são indispensáveis para entender a progressão do Rap do Subsolo sonoro. 

Fica aqui a grande indicação de mais dois grandes sons do Subsolo - que ainda resistem, mesmo estando no séc. XXI.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Dizzy Gillespie



Ontem, 21 de outubro, Dizzy completaria os seus 92 anos, caso ainda estivesse vivo.

Nascido na Carolina do Sul em 1917, com o nome de John Birks Gillespie começou a estudar trompete com 12 anos. Com seu estilo virtuoso e altamente criativo, ficou famoso pelo estilo bebop, além das suas grandes bochechas e seu chamativo 'trompete curvado'. Tocou com figuraças do Jazz como John Coltrane, Roy Eldridge, Charlie Parker entre tantos outros. Misturou-se com a música caribenha, brasileira, africana e outras, tocando sempre com seu estilo irreverente. Foi do Jazz ao Funk mantendo a qualidade sonora de seu sopro. Em 1979 escreveu sua autobiografia intitulada To Be or not to Bop.  

Ao lado de Louis Armstrong e Miles Davis é um dos maiores trompetistas do século XX.


 
Dizzy Gillespie fez vários 'hinos' do Jazz que ficaram famosos tanto nas suas interpretações quanto nas de outros jazzistas: A night in Tunisia, Manteca, Matrix, Con Alma...
Dizzy morreu em janeiro de 1993.
Referência indispensável para qualquer sujeito que queira se embrenhar no Subsolo jazzistico, da saudosa música de qualidade que hoje em dia está cada vez mais escassa. 
Fica a pequena homenagem a um dos grandes mestres do subsolo. Salve Dizzy Gillespie.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Baby Charles - Baby Charles [2008]

Baby Charles: banda inglesa que faz um funky inspirado nos Funk'70 e com um groove pesado e suave, ao mesmo tempo.  Liderada pela voz sonoricamente rica e estilosa de Dionne Charles, a banda lançou o disco de estréia ano passado.
Indicação do meu parceiro Clayton Rogério [Pepo]. Discasso recomendadissímo para quem gosta de som do subsolo.

 
Fica a indicação.



terça-feira, 20 de outubro de 2009


A gente se deu bem desde o primeiro momento, desde o primeiro diálogo, desde o primeiro olhar mais profundo. A gente se dá bem até hoje.  O olhar não nega; não se nega nada. Ninguém nega. E assim a gente segue firme.

Viagem ao subsolo

... são divagações, alterações de humor, pensamentos, gostos, filosofia, crítica, em uma palavra, viagens: são viagens por um mundo obscuro que surgirão por aqui; são viagens a um mundo insano e cheio de surpresas e descobertas - boas ou não - que aparecerão por aqui. Digo mais: o que aparecerá, no entanto, são fragmentos, exertos, aforismos de uma vida semi-real (talvez) ou semi-imaginária. Digo que há paixão nas linhas; que há paixão por uma Menina; que há paixão por discos e por filosofia (dialética); que, enfim, há paixão por/pela vida (pela VIDA!). Talvez... nada mais.