terça-feira, 27 de outubro de 2009

Manifesto de criação do Coletivo Quincas Borba! [Mov. Estudantil, Mackenzie, SP]

Manifesto Quincas Borba!

“A palavra daquele grande homem era o cordial da sabedoria. Disse-me ele que eu não podia fugir ao combate.”

Quincas pensou em um sistema filosófico agregador de toda a humanidade. Diz ele que todos descendemos de um único homem, Humanitas, que é “repartido por todos os homens”. Cada um de nós é um “Humanitas reduzido”. Viemos de sua cabeça, de seu coração, de seu peito, e também de sua unha do dedão do pé, da ponta de seu nariz, de seu ânus. Longe de se parecer com Brahma, o deus criador hindu, Humanitas é como nós: sente fome, inveja ou mesmo sono. Ele nos concede a vida, “o maior benefício do universo”, e nós pagamos com luta, incansável e insaciável luta. “Lutar... o essencial é que lutes. Vida é luta. Vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal”. Para os vencidos resta fome e destruição. “Ao vencedor, as batatas”!


Não pretendemos semear nem fome nem destruição. Nada disso. Nosso esforço se concentra em nos reconhecermos no mesmo corpo, agirmos em harmonia, sobretudo AGIRMOS. Em outras palavras, buscamos quatro pilares para o que estamos construindo: identidade, coletividade, atitude e solidificação.


Qualquer questão estudantil é antes uma questão de luta. Não digladiaremos pelas ruelas mackenzistas. Deixemos a espada do rei ao lado. O combate é com palavras. A ação é com firmeza, com coragem, astúcia e humor. A confiança é o que nos une.


Ao nosso lado soam murmúrios tirânicos, até os “açoitados” o proferem. Perguntar se é errado ou menos certo não faz sentido. Do frio que nos assola, nos protegemos na união, numa autêntica e verdadeira união. A velha questão da heteronomia entra novamente em cena. Mas nós optamos pela desburocratização do ser autônomo. Não só contra a União Nacional dos Estudantes (a famigerada UNE que, como vinho que apodrece com o passar dos anos, de gosto valioso, torna-se líquido insalubre, fétido, repugnante), nos oporemos a todo movimento estudantil que se porte como títere nas mãos de poucos. Despedacemos os fantoches! Cortemos os dedos que procuram pelos trapos! Como Prometeu nos ensina, é inútil o fogo para o enclausurado; os grilhões impossibilitam a luta.


E nosso passado, que nos espreita nas vielas do conformismo, não será esquecido. Diferente de distribuir comunicados - ranger as correntes agarradas à ponta da pirâmide -, é o papel a que nos propomos. Nós lutamos por rompê-las. O palco onde o combate é travado é o palco da ação e do coletivo. “Mas no fundo da caverna baila um único nome”, diz aquele que vê sombras. Ilusão provocada pelo brilho das algemas.


“Uma autorrepresentação discente”, “um movimento estudantil”, “uma ponte entre alunos e universidade”, “portavozes”, definam como quiserem. Em um campo onde monstros autômatos alimentam-se dos cérebros que jazem inertes, somos os cães que ladram por vida.


Todos sabem que o Mackenzie carece deste chamado. Assim como as paredes geladas do labirinto burocrático que impedem Teseu de encontrar Minotauro, a inalcançável distância entre a base e a ponta não deixa que o fogo derreta a pirâmide. O culpado? Todos nós. Cabe transformarmos a situação. “Humanitas precisa comer”. Vamos saciá-lo.


E em busca do quê?


Da verdade, pois “no dia em que a houveres penetrado inteiramente, ah! nesse dia terás o maior prazer da vida, porque não há vinho que embriague como a verdade”. E ela só pode aparecer quando nos expressamos. Somos contra o silêncio. Contra os abismos mudos que nos separam.


Quincas Borba, homem, alunos ou cão, pouco importa, desde que a voz seja ouvida.
...
Mas há quem diga que o nome só se confirma por causa de Borba.

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