sábado, 26 de setembro de 2015

Definição do tempo histórico: entre a distorção e a loucura


Tudo caótico! A vida se passa em um momento louco. Os mais medrosos defendem os interesses dos outros – e dizem ser mesmo deles. Os mais espertos defendem os interesses aparentes dos outros – mas são, na verdade, seus mesmos. Os outros, por sua vez, sequer sabem que estão sendo debatidos, jogados aos dois lados. Os lados, cada qual em seu canto, somente se resumem em dois: nem quadrado, nem nada. Todo imobilizado. Não formam figura. Tudo imediato: a verdade do processo é tomada de assalto, esquartejada. E isto exatamente por quem mais diz defendê-la. A proeza, que vem da ex-querda, revolve-se nas tumbas. É isto! Ela morreu – aquele lado – e quer se dizer viva. Seja como for, sobra apenas o reflexo distorcido do que foi um dia. Nostalgia? Nem! O processo da história engole tudo, inclusive aqueles que dizem apontar seu norte. Mas que nada! O medo é poder coeso, expresso de modo inverso, parece guerreiro mas é cachorro acuado, rabo entre as pernas. Ou, de outra forma, é capacho de Casa-Grande: defende o interesse do senhor, limpa seus pés – e sua barra – como se fosse seu serviço mais nobre. Sua autonomia reside – e morre! – na porta de entrada: recebe bem enquanto é enlameado.

A totalidade – outrora levada em consideração pelos jacobinos – agora é sumamente ignorada. Nada mais lhe diz respeito. A totalidade – a outra, a falsa, o fetiche, a reificada – vence. E vence com pompa de natureza: sem ser notada, se impõe; naturalizada, nem se esforça. O desespero, amigo do medo, nem mais bate à porta: entra sorrateiro ao mesmo tempo sorridente e toma tudo com grande armada. Sua sacada: não se esforçar. É sempre bem recebido por aqueles que deixaram a utopia de lado e se voltaram ao caos: evitam a distopia a perfazendo do centro às beiradas; das beiradas ao centro. Cão espumento que morde menos, ainda é cão. Ainda transmite raiva. Ainda é cilada.

De dois lados não se faz nada. Ou são paralelas, ou têm histórias cruzadas, e se confundem. Enquanto se enroscam uma na outra, o papel é o mesmo e define os limites das linhas – que se querem lado mesmo que sejam somente retas tortas oblíquas e dissimuladas –, ainda que pareça seu amigo natural. O papel não aparece, nem para aqueles, nem a estes. Mas são aqueles que se beneficiam. São eles os verdadeiros amigos da limitação do papel. O benefício? Bem, é somente de quem produz a celulose. Não são estes, certeza.
É muita boca para falar aos quatro ventos. É muita boca passando fome sem querer comer, cedendo seu prato ao gordo do outro lado, que mal sabe o que é a fome; que não para, só come. A nobreza e o altruísmo do faminto, pobre, é sua morte, podre. Sua defesa apaixonada é com a pá que cava. Sete palmos em sete anos. Quatorze anos é o dobro.

Enquanto a totalidade não é tocada – o papel ainda o mesmo e o personagem morto – a vida escorre – nem vive, nem desenvolve. Nada se resolve. Tudo caótico. O medo é tópico, é distópico. A morte é viva. A menina, o outro, a faminta e o lobo. Todos se acham com razão imediata. Enquanto a Coisa – sim, o capital, a totalidade, para não dizer que fiquei na abstração – segue seu curso ininterrupto. No fim, fomos covardes e pilantras, ao mesmo tempo. A covardia nos tornou pilantras. A pilantragem nos fez coveiro. A cova virou calvário. E o calvário se tornou o medo da perda. Perda de quê? Pois bem, eis o que não se tem. Nada não se perde, todavia somente a ilusão quando se rompe.

Subsolo!

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