Dizer
que se trabalha com o coração, por amor ou vocação, é desconhecer o que
significa o trabalho e o coração. Chamar de sofista, em tal época, é anacrônico
e injusto. É preciso colorir o material do pensamento, e, para isso, o próprio
pensamento deve ser prismático, como aquele que, à força bruta, quebra os tons
de cinza da vida cotidiana. Onde não opera o prisma histórico que deixa a
superfície e se embrenha nas entranhas encarniçadas da História, opera o
cinismo. Tal qual Fortunato (“A Causa Secreta” – Machado de Assis), que se ri e
deleita de sua desgraça, sadicamente,
o cinismo está incrustado na alma dúbia do brasileiro – descendente de senhor
de engenho, ainda que escravo, pequeno-burguês, embora não capitalista. É dia
de festejar, tal como se soleniza o sábado de aleluia e se reverencia o Judas
de pano. O Real da História é escondido atrás do sorriso amarelo de pavor e dos
parabéns ocos do dia. O pavor dos fantasmas do Real – fantasmas mais-que-reais – faz do miserável do
dia, expressão forte da miséria geral, um Rei sem precedentes. “O Rei está nu” – é necessário que
alguém grite!
O
educador – achincalhado-exaltado do dia, e só deste dia – somente poderia ser
educado na medida em que rompesse com a própria educação.
Subsolo!