sábado, 15 de outubro de 2016

Fragmento #4: Ode ao Cinismo – ou – História sem Prisma


Dizer que se trabalha com o coração, por amor ou vocação, é desconhecer o que significa o trabalho e o coração. Chamar de sofista, em tal época, é anacrônico e injusto. É preciso colorir o material do pensamento, e, para isso, o próprio pensamento deve ser prismático, como aquele que, à força bruta, quebra os tons de cinza da vida cotidiana. Onde não opera o prisma histórico que deixa a superfície e se embrenha nas entranhas encarniçadas da História, opera o cinismo. Tal qual Fortunato (“A Causa Secreta” – Machado de Assis), que se ri e deleita de sua desgraça, sadicamente, o cinismo está incrustado na alma dúbia do brasileiro – descendente de senhor de engenho, ainda que escravo, pequeno-burguês, embora não capitalista. É dia de festejar, tal como se soleniza o sábado de aleluia e se reverencia o Judas de pano. O Real da História é escondido atrás do sorriso amarelo de pavor e dos parabéns ocos do dia. O pavor dos fantasmas do Real – fantasmas mais-que-reais – faz do miserável do dia, expressão forte da miséria geral, um Rei sem precedentes. “O Rei está nu” – é necessário que alguém grite!
O educador – achincalhado-exaltado do dia, e só deste dia – somente poderia ser educado na medida em que rompesse com a própria educação.

Subsolo!


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