segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Fragmento #3: Filosofia


Há dois tipos de filosofia: aquela que incide na realidade e com ela se envolve de forma crítica, impondo sua força crítica que, ao mesmo tempo, é produto da realidade sem se vencer pelas “adversidades do conteúdo” fatídico do presente; e aquela que paira sobre a realidade, como um saco plástico que “sobrevoa”, pensando ser o sobrevoo sua autonomia, sem perceber que é levada pelos ventos. Esta, por definição, sente-se livre. É, por isto mesmo, coisificada e somente revela a incapacidade do pensamento: o “filósofo” sucumbe à realidade na mesma medida em que pensa esmagá-la entre os dedos que segura a caneta. Quem, por ossificação de si mesmo, se refere como pensador, prescinde da prática e a vê como desligada da reflexão: filosofia só é quando tende a se superar; é crítica da realidade efetiva, não sua serva. Bois em pasto pensam tanto, com exímia seriedade, sobre suas liberdades e agraciam o pastor, quanto aquele que se isenta e cria uma realidade paralela: o mote é não hipostasiar palavras, mas imobilizar a realidade e seus conceitos prescritos na letra do texto, na posição privilegiada e cordial da universidade... Très bien! Seguramente, vale mais a repetição distópica – que dá segurança ao sujeito do discurso bonito –, que a errância da experiência, rechaçada pelos pensadores que buscam porto seguro na “crítica” da segurança. A seriedade bovina tem medo da águia que alça voo ao amanhecer; medo de quem não é de pasto. 


Subsolo!

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