As pequenas risadas. Os sorrisos. A
amizade cúmplice. A amizade simples. O pôr-do-sol. E também o nascer. A garoa
fina. As folhas secas. E também as flores desabrochadas. As pequenas lágrimas,
escondidas, de alegria e de tristeza. O renovar por meio delas. Cada segundo da
existência bem existida. As viagens com Goethe, Dostoiévski... com Benjamin. A
simplicidade da luz do daion. As coisas velhas e bem guardadas. Coisas
antigas... As pequenas lembranças, pois todas são bem pequenas e gigantes pela
apreciação de cada uma, pela renovação e pela reelaboração de cada uma. Os
pequenos chistes de infância. As andanças com a cabeça longe... As histórias
dos mais velhos. As histórias dos antigos. Os apuros passados juntos, e também
os que ninguém sabe, que se passou só... A comida da avó. Os abraços. O cheiro
do café, da terra após a chuva. As noites mal dormidas pela ansiedade. As
fotografias granuladas que possuem, cada uma, uma história completa e incrível.
O retorno a algum lugar que há muito não se ia. Anos de memórias boas que
revivem... As noites com brisas quentes do mar, olhando para o infinito,
pensando em tudo, em nada. As pequenas conversas. Aquelas que se fazem à luz da
lua. As que fizeram tudo ter outro sentido. O demorar-se numa ideia, às vezes
sem sentido. Os banhos de descarrego. As histórias de terror quando faltava
luz... Os medos de infância. As minúsculas alegrias que se perderam no tempo.
Os sorrisos que ficaram para trás. Os passeios mais singelos. A despreocupação
com o tempo. Os conselhos de mãe...
As pequenas coisas que se esquecem, que
se vão. Que revivem, rememoram-se... Aquelas que, num ato messiânico, utópico,
romântico, poderiam salvar o mundo, salvariam as existências individuais. As
mesmas que, perdidas, fizeram as relações congelarem, tornarem-se frias “desemoções”, descabimentos... Que
tornaram a técnica a confluência e ponto necessário e teleológico de toda vida.
Que suprimiram o tempo, aquele mesmo que cria a memória, que guarda tudo que
poderia dar sentido à existência individual. As pequenas coisas simples que,
não existindo mais, tornam a vida danificada. Transformam a vida em algo
objetificado, e o objeto, por sua vez, aquele que toma posse irrestrita da
vida. A perda do sentido das emoções, sendo elas apenas um produto já
mastigado, posto pela técnica, pela “techno
logos”. Pequenas coisas que se esquecem, que se esfacelam no tempo
suprimido, que se perdem. Que não voltam. Que podem reavivar, mas...
Subsolo Urbano!
[Ouvindo: Ronnie Laws - Night Breeze]
[Ouvindo: Ronnie Laws - Night Breeze]
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