sábado, 8 de junho de 2013

Pequenas Coisas


As pequenas risadas. Os sorrisos. A amizade cúmplice. A amizade simples. O pôr-do-sol. E também o nascer. A garoa fina. As folhas secas. E também as flores desabrochadas. As pequenas lágrimas, escondidas, de alegria e de tristeza. O renovar por meio delas. Cada segundo da existência bem existida. As viagens com Goethe, Dostoiévski... com Benjamin. A simplicidade da luz do daion. As coisas velhas e bem guardadas. Coisas antigas... As pequenas lembranças, pois todas são bem pequenas e gigantes pela apreciação de cada uma, pela renovação e pela reelaboração de cada uma. Os pequenos chistes de infância. As andanças com a cabeça longe... As histórias dos mais velhos. As histórias dos antigos. Os apuros passados juntos, e também os que ninguém sabe, que se passou só... A comida da avó. Os abraços. O cheiro do café, da terra após a chuva. As noites mal dormidas pela ansiedade. As fotografias granuladas que possuem, cada uma, uma história completa e incrível. O retorno a algum lugar que há muito não se ia. Anos de memórias boas que revivem... As noites com brisas quentes do mar, olhando para o infinito, pensando em tudo, em nada. As pequenas conversas. Aquelas que se fazem à luz da lua. As que fizeram tudo ter outro sentido. O demorar-se numa ideia, às vezes sem sentido. Os banhos de descarrego. As histórias de terror quando faltava luz... Os medos de infância. As minúsculas alegrias que se perderam no tempo. Os sorrisos que ficaram para trás. Os passeios mais singelos. A despreocupação com o tempo. Os conselhos de mãe...

As pequenas coisas que se esquecem, que se vão. Que revivem, rememoram-se... Aquelas que, num ato messiânico, utópico, romântico, poderiam salvar o mundo, salvariam as existências individuais. As mesmas que, perdidas, fizeram as relações congelarem, tornarem-se frias “desemoções”, descabimentos... Que tornaram a técnica a confluência e ponto necessário e teleológico de toda vida. Que suprimiram o tempo, aquele mesmo que cria a memória, que guarda tudo que poderia dar sentido à existência individual. As pequenas coisas simples que, não existindo mais, tornam a vida danificada. Transformam a vida em algo objetificado, e o objeto, por sua vez, aquele que toma posse irrestrita da vida. A perda do sentido das emoções, sendo elas apenas um produto já mastigado, posto pela técnica, pela “techno logos”. Pequenas coisas que se esquecem, que se esfacelam no tempo suprimido, que se perdem. Que não voltam. Que podem reavivar, mas...  

Subsolo Urbano! 

[Ouvindo: Ronnie Laws - Night Breeze]

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